19/11/2013 | EDUCAÇÃO
O USO DAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO
É
importante que haja não apenas uma revolução tecnológica nas escolas. É
necessária a revolução na capacitação docente, pois a tecnologia é algo ainda a
ser desmistificado para a maioria dos professores
No contexto escolar atual, é impensável fazermos algumas tarefas sem a ajuda de
um computador. Pilhas de cadernos, agendas e planilhas de papel foram
substituídas por arquivos no computador, que facilitam o fechamento de notas, o
controle de presenças, a emissão do histórico dos alunos, etc. Provas são
ricamente elaboradas com o uso de softwares, internet e editores de texto.
Chega um momento, porém, em que a presença de alguns recursos tecnológicos deve
deixar de ser imprescindível apenas no espaço administrativo e ocupar seu lugar
onde será mais útil e mais ricamente aproveitada: a sala de aula.
Os recursos tecnológicos na escola
É evidente a insatisfação dos alunos em relação a aulas ditas
"tradicionais", ou seja, aulas expositivas nas quais são utilizados
apenas o quadro-negro e o giz. O aprender por aprender já não existe: hoje, os
alunos precisam saber para que e por que precisam saber determinado assunto.
Essa é a típica aprendizagem utilitária, isto é, só aprendo se for útil,
necessário para entrar no mercado de trabalho, visando ao retorno financeiro. A
internet invade nossos lares com todas as suas cores, seus movimentos e sua
velocidade, fazendo o impossível tornar-se palpável, como navegar pelo corpo
humano e visualizar a Terra do espaço sem sair do lugar. É difícil, portanto,
prender a atenção do aluno em aulas feitas do conjunto lousa + professor.
Então, por que fazer o mesmo quando se pode fazer diferente? Uma vez que os
alunos gostam tanto de aulas que utilizam a tecnologia, por que não aproveitar
essa oportunidade e usá-la a seu favor? A aula pode entusiasmar os alunos de
maneira ao menos parecida com que são excitados pelos jogos e filmes de alta
qualidade em efeitos especiais. A escola precisa modernizar-se a fim de
acompanhar o ritmo da sociedade e não se tornar uma instituição fora de moda,
ultrapassada e desinteressante. Embora lentamente, ela está fazendo isso. Saber
que o aluno aprende com o que lhe prende a atenção todos sabem. A questão é:
estão os professores, as escolas e os sistemas de ensino preparados para tal
mudança?
Aulas modernizadas pelo uso de recursos tecnológicos têm vida longa e podem ser
adaptadas para vários tipos de alunos, para diferentes faixas etárias e
diversos níveis de aprendizado. O trabalho acaba tendo um retorno muito mais
eficaz. É importante, no entanto, que haja não apenas uma revolução tecnológica
nas escolas. É necessária a revolução na capacitação docente, pois a tecnologia
é algo ainda a ser desmistificado para a maioria dos professores.
Existe uma infinidade de programas disponíveis para montagem de exibições de
slides, de atividades interativas e jogos; porém, alguns professores não sabem
como utilizá-los. Utilizar o computador em sala de aula é o menor dos desafios
do professor: utilizar o computador de forma a tornar a aula mais envolvente,
interativa, criativa e inteligente é que parece realmente preocupante. O
simples fato de transferir a tarefa do quadro-negro para o computador não muda
uma aula. É fundamental que a metodologia utilizada seja pensada em conjunto
com os recursos tecnológicos que a modernidade oferece. O filme, a lousa
interativa, o computador, etc., perdem a validade se não se mantiver o objetivo
principal: a aprendizagem.
O que vem sendo feito e o que é possível melhorar
Os recursos tecnológicos devem servir como extensões do professor. Ideias
abstratas tornam-se passíveis de visualização; o microscópico torna-se grande;
o passado torna-se presente, facilitando o aprendizado e transformando o
conteúdo em objeto de curiosidade e interesse. O essencial é que as aulas
obedeçam a uma cadeia de ideias que deixe o aluno orientado em relação ao que
está aprendendo. Cada aula não é uma aula, e sim uma aula que veio antes de uma
aula e depois de outra. O aprendizado deve ser interligado.
Em língua portuguesa, por exemplo, podem ser trabalhados textos utilizando
apenas um computador e um programa Word. A professora pode incluir comentários
nos textos dos alunos sem alterá-los e depois pedir que revisem. Outra
atividade interessante é pedir aos alunos que pesquisem na internet um texto
narrativo e solicitar que mudem o gênero textual para poesia ou teatro
(Magalhães e Amorim, 2008). A internet é uma fonte riquíssima e excelente aliada
do professor de português. Podem ser realizadas produções de textos baseadas em
histórias em quadrinhos disponíveis na rede (www.turmadamonica.com.br). Sites
de notícias podem ser visitados para analisar, por exemplo, como determinado
país divulgou um acontecimento de âmbito mundial.
Nessa seqüência, pode-se trabalhar o texto jornalístico, e os próprios alunos
montam um jornal da escola utilizando programas no computador. Gráficos e
tabelas no Excell podem ser elaborados com o auxílio do professor de
matemática; artigos sobre o meio ambiente e alguma questão que envolva a
comunidade local podem ser criados com o apoio dos professores de ciências e
geografia. O mesmo jornal pode ser trabalhado no formato de telejornal, e os
alunos poderão fazer gravações com câmeras digitais. As videoconferências,
realizadas através de programas como o Skype, por exemplo, são particularmente
úteis para o professor de língua estrangeira, que poderá acordar com
professores de outros países que ensinam a língua em questão, em séries
equivalentes, para que os alunos possam conversar on-line.
Febre entre a garotada, e agora ferramenta para a sala de aula, são os sites de
relacionamento e os blogs. Com atividades dirigidas e objetivos claramente
estabelecidos, é possível levar para a escola oportunidades reais de uso da
língua estrangeira ou mesmo da língua materna. Não podemos esquecer os sites de
atividades interativas, especialmente os jogos on-line. Atividades como bingo,
anagramas, caça-palavras, palavras cruzadas e forca são alguns exemplos de
exercícios interativos.
A internet tem papel fundamental no ensino de língua inglesa. É a fonte natural
da língua, mais acessível para alunos de qualquer contexto social. Desde
formulários para diversas finalidades até a inscrição em muitos sites de
relacionamento terão de ser preenchidos em inglês. Isso já representa uma
necessidade de aprender uma língua estrangeira, uma vez que muitos querem uma
razão para isso. Vídeos no Youtube, músicas e vários outros recursos são mais
alguns exemplos de que não é necessário viajar para o exterior para ter contato
com falantes nativos de inglês.
As possibilidades
Diante de tantas possibilidades, convém saber que existem estudiosos que já
pensaram a respeito e que escrevem ricamente sobre o assunto, dando ao
professor subsídios para o planejamento de aulas com um pouco mais de segurança
e bastante criatividade. No livro Cem aulas sem tédio, as professoras Vivian
Magalhães e Vanessa Amorim (2003) defendem a ideia de que precisamos encarar
nossos medos e utilizar os recursos tecnológicos como apoio para nossas aulas.
Enfatizam ainda que os professores jamais serão substituídos pela tecnologia,
mas aqueles que não souberem tirar proveito dela correm o risco de ser
substituídos por outros que sabem. O uso da internet em sala de aula fornece
subsídios para um ensino mais centrado no aluno e em suas iniciativas
(Leventhal, Zajdenwerg e Silvério, 2007). Além de abrir perspectivas durante as
aulas, revela-se como uma útil ferramenta na área de pesquisa para projetos,
desenvolvimento de leitores e acesso à informação.
Outro aspecto interessante é que, em sua maioria, o material disponível na
internet, ou mesmo filmes e documentários, não respeitam uma sequência linear
de aprendizado. Assim, levando-se em consideração o conhecimento prévio do
aluno, é possível proporcionar um envolvimento completo, uma interação ampla
com o mundo que o cerca. Ele precisa ser desafiado para que possa aprender
efetivamente, conforme o conceito elaborado por Vygotsky (1984) acerca da zona
de desenvolvimento proximal (ZDP). Ela se refere à distância ente o nível de
desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente
de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da
solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com
companheiros mais capazes.
O papel do professor, segundo essa teoria, é o de mediador, auxiliando o aluno
a alcançar seu potencial máximo, aproveitando todos os benefícios educativos
que os recursos tecnológicos podem oferecer. O vídeo, por exemplo, é um grande
aliado da ação pedagógica, já que está diretamente ligado ao conceito de lazer.
Desse modo, o professor traz para a sala de aula um elemento da realidade do
aluno, fugindo da linguagem tradicional da escola, que é normalmente o padrão
escrito.
Um papel que precisa ser reavaliado é o da televisão em sala de aula. Há um
grande número de programas a serem analisados a fim de introduzir um conteúdo,
aprofundá-lo ou ilustrá-lo, como novelas, desenhos, noticiários, documentários,
clipes, programas de auditório, entre outros. Segundo Moran, "Tudo o que
passa na televisão é educativo. Basta o professor fazer a intervenção certa e
propiciar momentos de debate e reflexão" (2006).
Independentemente do recurso tecnológico em questão, o professor é o sujeito
capaz de mediar o aprendizado e torná-lo mais atrativo, divertido e
interessante para os alunos. Os recursos tecnológicos, bem mais do que aguçar a
curiosidade do aluno em relação ao que está sendo ensinado, ajudam a prepará-lo
para um mundo em que se espera que ele conheça, além dos conteúdos escolares,
todos os recursos por meio dos quais esses conteúdos foram trabalhados.
O aluno tem direito ao acesso às tecnologias na escola: "A sólida base teórica
sobre informática educativa no Brasil existente em 1989 possibilitou ao MEC
instituir, através da Portaria Ministerial nº 549/89, o Programa Nacional de
Informática na Educação - PRONINFE, com o objetivo de desenvolver a informática
educativa no Brasil, através de atividades e projetos articulados e
convergentes, apoiados em fundamentação pedagógica sólida e atualizada, de modo
a assegurar a unidade política, técnica e científica imprescindível ao êxito
dos esforços e investimentos envolvidos" (História da informática
educativa no Brasil, site do MEC/SEED/PROINFO, nome do autor não indicado).
Assim, a escola cumpre duplamente seu papel: ensina e educa, educando para um
mundo no qual a tecnologia é não só necessária, mas também essencial.
São muitos os benefícios trazidos pelos recursos tecnológicos à educação.
Contudo, é preciso que o professor conheça as ferramentas que tem à sua
disposição se quiser que o aprendizado aconteça de fato. O uso das tecnologias
na escola está além de disponibilizar tais recursos; ele implica aliar método e
metodologia na busca de um ensino mais interativo. (Fonte: Renata Beduschi de
Souza é graduada em Letras, professora de língua portuguesa da rede municipal
de Campo Bom (RS) e de língua inglesa do Centro de Idiomas da Universidade
Feevale, de Novo Hamburgo -RS).