Na semana que antecede o retorno dos eleitores soteropolitanos às urnas, Nelson Pelegrino (PT) e ACM Neto (DEM) precisam controlar a ansiedade e enfrentam uma maratona de atividades, como caminhadas, comícios e debates, na batalha por votos que promete ser uma das mais disputadas da história da capital baiana. Nesses momentos decisivos, os candidatos escondem as estratégias e mantêm a confiança de que é possível conquistar a população até o dia 28 de outubro.
“A expectativa é a melhor possível, proporcionada pela ebulição da militância nas ruas e das palavras de incentivo que recebo nas caminhadas. Além disso, recebemos os apoios de Mário Kertész (ex-PMDB), Márcio Marinho e o PRB, do PSC, do PRTB de Da Luz, e um grande impulso há de vir também com as presenças da presidenta Dilma Rousseff no comício da ultima sexta-feira e do presidente Lula”, aponta o petista, que chega à reta final com um arco de apoios com 19 partidos e três ex-candidatos a prefeito de Salvador.
Para ACM Neto, o tom é similar. “As expectativas são as melhores possíveis. Venci o primeiro turno e, agora, estou com o apoio total do PMDB e de dezenas de candidatos a vereador que disputaram as eleições por outros partidos. Agora, no segundo turno, estou com o mesmo tempo de programa de televisão do que meu adversário, o que me possibilita dialogar com os eleitores e expor meu programa de governo”, aposta o democrata. “Estou muito confiante na vitória”, garante Neto.
A Tribuna reuniu as principais propostas e projetos apresentados pelos dois candidatos ao longo dos quase quatro meses de campanha, contendo basicamente quatro eixos principais: mobilidade urbana, saúde, educação e cultura e segurança pública.
Pelegrino e Neto prometeram ainda ações em outras áreas, que deverão ser acompanhadas atentamente pelos eleitores, independente de quem sair vitorioso nas urnas no próximo domingo. O vencedor do pleito terá quatro anos para provar que as promessas não aconteceram apenas antes de chegarem ao poder.
Educação
Área que tem sido alvo de ataques constantes durante todo o pleito, o setor de educação em Salvador gera opiniões divergentes entre os candidatos que estão no segundo turno. Enquanto ACM Neto (DEM) defende que a pasta da Educação, com João Carlos Bacelar, presidente estadual do PTN, é uma das áreas que funciona na atual administração da capital baiana, Nelson Pelegrino (PT) opta por apontar falhas e por falar sobre um virtual emparelhamento da secretaria. Ambos, entretanto, concordam que há aspectos a serem melhorados pelo próximo prefeito.
“Vocês [creches-escolas comunitárias] não precisarão bater na nossa porta, nós é que vamos bater na porta de vocês para fazermos um trabalho conjunto pela educação infantil, vamos cuidar de nossas crianças”, afirmou Pelegrino, após receber um documento com as reivindicações de diversas instituições. A ampliação do número de creches – de 73 para 138 – e a implantação de dois Centros Educacionais Unificados (CEUs), no Subúrbio e em Cajazeiras, com educação infantil, ensino fundamental e estrutura para atividades culturais e esportivas estão entre as promessas do petista. Há ainda em seu programa a ousada meta de erradicar o analfabetismo e a criação de vagas para ensino profissionalizante e educação profissional para jovens e adultos.
O democrata também segue um raciocínio semelhante para a inserção de jovens no mercado de trabalho. “Vamos ter um programa específico, com cursos de qualificação, para jovens entre 16 e 24 anos. O programa terá como objetivo a capacitação para o mercado de trabalho”, afirmou durante a campanha. Em seu programa, Neto trata da expansão no sistema de atendimento de creches, que funcionariam durante o dia todo – sem especificar quantidade. O candidato do DEM prometeu a construção de centros de educação integrada, a formação de um programa de alfabetização e um planejamento integrado para educação infantil. “A prefeitura precisa tomar medidas para garantir a maior permanência dos jovens na escola, aprendendo uma profissão para ter acesso mais fácil ao primeiro emprego e praticando esportes”, apontou o democrata.
Mobilidade
Tratado como um dos maiores entraves de Salvador, a mobilidade urbana – ou a falta dela – é alvo de promessas recorrentes entre os candidatos, que prometem diversas intervenções para solucionar os gargalos nas principais ruas e avenidas de Salvador. Em alguns pontos, Nelson Pelegrino (PT) e ACM Neto (DEM) se assemelham quando citam problemas do tráfego na capital baiana, ao falar de áreas críticas para o fluxo de pedestres e veículos e da integração entre modais de transporte público, além da requalificação das estações de ônibus e da recuperação de vias.
“Sabemos que medidas iniciais não vão resolver todo o problema do trânsito na cidade, mas tenho certeza que, com ordem, fiscalização e uma melhor gestão, vai dar para a população sentir a diferença”, apontou ACM Neto ao longo da campanha. Entre as propostas apresentadas pelo candidato, o programa para o trânsito trata da implantação de 40 km de corredores exclusivos para ônibus, ampliação de ciclovias, o bilhete único com duração de três horas e a recém-lançada ideia de meia-passagem de ônibus aos domingos.
O democrata fala ainda na importação de um modelo utilizado no Rio de Janeiro de monitoramento e intervenção em tempo real por um órgão a ser criado, o Centro de Operações de Salvador, além do incentivo à autonomia de bairros da cidade.
Nelson Pelegrino compartilha em seu programa de governo o bilhete único de três horas – originalmente proposto por um candidato derrotado no primeiro turno -, mas acrescenta outras intervenções para melhorar o trânsito na capital baiana.
O petista também fala da construção de ciclovias e especificou 12 pontos de considera críticos como a região do Iguatemi, a área entre as Avenidas Garibaldi, Vasco da Gama e Lucaia e o entroncamento da Avenida Luis Eduardo Magalhães com a BR-324, onde seriam construídos viadutos ou novas vias para facilitar a mobilidade urbana. O diferencial de Pelegrino nesse setor é a proposta de construir uma via ligando a BR-324, em Águas Claras, à Avenida Paralela, cortando Cajazeiras, que levaria o nome de Avenida 29 de Março.
Saúde
Se, na educação, Nelson Pelegrino (PT) responsabiliza o PTN, aliado de ACM Neto (DEM), pela má condução dos rumos do setor, na saúde acontece uma situação inversa.
Nos últimos instantes da campanha, o democrata usa o estado da saúde em Salvador para imputar responsabilidades ao adversário, que indicou secretários no primeiro mandato de João Henrique e é do mesmo partido do governo do Estado, que, segundo Neto, é corresponsável pelo momento delicado vivido pela área. Ambos, entretanto, concordam que é necessária uma guinada para melhor atender a população.
“A primeira coisa que temos de fazer na saúde em toda a cidade é colocar o sistema para funcionar. E vou cobrar isso pessoalmente. Essa também é uma questão de gestão, e vamos dar total prioridade a isso”, afirmou ACM Neto durante a campanha. Entre os projetos apresentados por ele, o eleitor poderá cobrar, no caso de eleição, a ampliação da cobertura do Programa Saúde da Família (PSF) – de 17% para 50% –, a criação de multicentros especializados e de uma central de marcação de consultas em cada Distrito Sanitário e a construção de um hospital geral em Pau da Lima e uma maternidade municipal no Subúrbio. “Nós vamos trabalhar para devolver a dignidade e o respeito às pessoas. Governar Salvador é cuidar da vida das pessoas”, prometeu.
Pelegrino aposta na meta de 50% de cobertura do PSF, assim como o democrata, mas assegura que haverá uma reserva de 20% da verba da prefeitura para a área de saúde. “Nós vamos atender a população da periferia em suas carências, com um melhor sistema de saúde pública, fazendo os postos funcionar e aumentando a cobertura em saúde da família, por exemplo, mas nosso governo será um só para toda a cidade”, apontou o petista.
Entre os projetos, ele cita a construção de 12 Unidades de Pronto Atendimento, a implantação de oito policlínicas, a vinda do programa federal Rede Cegonha e a construção de um hospital municipal. Pelegrino promete também o sistema de prontuário eletrônico e a contratação de mais agentes comunitários de saúde.
Segurança
“Com a Guarda Municipal atuando em locais menos perigosos da cidade, a polícia será liberada para combater o crime nas regiões de maior índice de violência”, prometeu Nelson Pelegrino (PT). De acordo com o petista, além da ampliação do efetivo da corporação, outras medidas devem ser adotadas para reduzir a criminalidade em diversas áreas de Salvador. Pelegrino aposta em ações de cidadania e educativas como soluções para melhorar os índices da área de segurança pública, com videomonitoramento, o uso de conselhos comunitários de segurança e a integração com outras forças, como a Polícia Militar, a Polícia Civil e Bombeiros.
ACM Neto possui basicamente propostas muito similares, especialmente na questão do aumento do efetivo da Guarda Municipal e a consequente melhora na qualidade dos equipamentos. Ambos citam pontos elementares como a iluminação pública e o investimento em educação como saídas para reduzir os índices de violência na capital baiana. “A segurança pública é dever do estado, mas todas as cidades do mundo que investiram em guardas municipais registraram uma redução substancial nos índices de criminalidade”, indicou o democrata durante a campanha – aproveitando para alfinetar o governo da Bahia.
A prevenção à violência contra a mulher também pauta os dois candidatos. Tanto o combate aos casos de violência familiar quanto abuso sexual estão presentes nos programas de ambos, com referências ao Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) por Pelegrino e ACM Neto prometendo um centro de advocacia para auxiliá-las.
As semelhanças entre programas e propostas são muitas e os pequenos detalhes serão essenciais para convencer os eleitores de que um candidato é melhor que o outro. Cada um deles dispõe de apenas seis dias para conquistar votos. Os argumentos estão postos nos jornais, na internet, no rádio e na televisão. Cabe à população decidir quem toma posse no Palácio Thomé de Souza em 1º de janeiro de 2013.