A produção industrial brasileira voltou a crescer em outubro, com alta de 0,9 por cento frente a setembro e de 2,3 por cento sobre um ano antes, mas ainda permaneceram os sinais de que os investimentos não estão se recuperando, colocando em dúvida se a recuperação da atividade está em curso.
O dado divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira ficou um pouco abaixo do esperado pelo mercado, mas foi compensado pela revisão da leitura mensal de setembro, cuja queda que passou de 1 para 0,6 por cento.
"O resultado mostra que as medidas de curto prazo do governo proporcionaram alguma recuperação, mas de maneira muito irregular. Não está claro se a dinâmica é de alta, e de alta sustentável", avaliou a economista da Tendências Alessandra Ribeiro.
Na comparação com um ano antes, ainda segundo o IBGE, a produção industrial foi a primeira depois de 13 meses seguidos de contração.
De acordo com analistas, a queda de 0,6 por cento da produção de Bens de capital em outubro ante setembro é o principal motivo para essa dúvida, uma vez que sinaliza que os investimentos continuam em queda.
No trimestre passado, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) havia recuado 2 por cento sobre o período anterior, a pior retração em mais de três anos, um dos fatores que levaram ao crescimento de apenas 0,6 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).
O mau desempenho em outubro, na avaliação do economista-chefe do BES Investimentos, Jankiel Santos, já coloca uma nuvem negra sobre as perspectivas de recuperação desse segmento neste trimestre. "(Isso) afeta o humor em relação a uma retomada da atividade", acrescentou ele.
De acordo com pesquisa da Reuters junto a 35 analistas, a expectativa era de que a atividade avançasse 1,2 por cento em outubro ante setembro e 2,5 por cento no ano.
Outra categoria de uso, das quatro analisadas pelo IBGE, que apresentou retração em outubro foi a de Semiduráveis e não duráveis, de 0,3 por cento, ante o mês anterior. Já Bens Intermediários e Duráveis tiveram alta de 0,6 e 1,4 por cento no período, respectivamente.
POUCA DISSEMINAÇÃO
Segundo o IBGE, em outubro, 13 das 27 atividades pesquisadas apresentaram avanço na produção sobre o mês anterior, deixando claro que a alta é pouco disseminada. O destaque foi o setor de indústrias extrativas, com avanço de 8,6 por cento, interrompendo as quedas verificadas desde junho.
"De alguma forma há um crescimento concentrado em alguns setores, diferentemente do que houve em agosto, que teve um perfil espalhado de expansão. É preciso esperar novembro e dezembro para ver exatamente para onde a indústria esta caminhando", economista do IBGE André Macedo.
Os segmento de máquinas e equipamentos registrou alta de 6,3 por cento, recuperando assim parte do recuo de 9,4 por cento entre julho e setembro, informou o IBGE. Por sua vez veículos automotores --atividade que recebeu fortes incentivos fiscais do governo nos últimos meses-- registrou avanço de 3,7 por cento em outubro, eliminando a queda de 1,2 por cento no mês anterior.
"O resultado está muito em linha com a questão dos incentivos, principalmente a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), com destaque para automóveis", afirmou Alessandra, da Tendências, que estima queda de 2,5 por cento na produção industrial em 2012. No acumulado em 2012, a queda é de 2,9 por cento, segundo o IBGE.
Na outra ponta, houve queda da produção nos setores de farmacêutica (-5,2 por cento), refino de petróleo e produção de álcool (-2,6 por cento) e máquinas para escritório e equipamentos de informática (-6,6 por cento).
No terceiro trimestre, beneficiado por medidas de estímulo do governo, a produção industrial mostrou uma pequena recuperação na comparação com o período de três meses anteriores, ao apresentar crescimento de 1,1 por cento.
Os recentes sinais da indústria são contraditórios. Enquanto o Índice de Gerentes de Compra (PMI, na sigla em inglês) do instituto Markit mostrou que a atividade industrial continuou em recuperação no mês passado, a confiança do setor medida pela Fundação Getulio Vargas (FGV) recuou em novembro.