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Entrevista Zezéu Ribeiro: Descentralizar é o grande desafio baiano

 29/12/2011 | OUTROS

Os investimentos em infraestrutura realizados na Bahia nos últimos anos mostram que o Estado abandonou de vez antigos conceitos de desenvolvimento industrial baseados na concentração de atividades na região metropolitana de Salvador. A mão de direção agora é outra: o objetivo é acelerar o ritmo em busca da descentralização. Um exemplo marcante dessa estratégia é a aposta firme do governo estadual na criação do complexo Porto Sul. Embora ainda esteja sendo questionada do ponto de vista ambiental, a obra deve consumir investimentos de R$ 8,1 bilhões.

Desse total, R$ 4,25 bilhões irão para a Ferrovia Oeste-Leste (FIOL), além de R$ 800 milhões para aquisição de equipamentos rodantes. A construção da primeira fase do Porto Sul, em Ilhéus, consumirá R$ 2,5 bilhões com objetivo de viabilizar o escoamento de parte da produção de grãos do interior do país. Para completar o eixo estratégico, serão aplicados ainda R$ 250 milhões na construção do novo aeroporto internacional de Ilhéus e cerca de R$ 300 milhões em acessos rodoviários ao complexo e contornos rodoviários nos municípios de Ilhéus e Itabuna.

"O maior desafio é evitar que a riqueza se concentre", afirma Zezéu Ribeiro, secretário de planejamento da Bahia. Segundo ele, os investimentos em infraestrutura têm uma perspectiva mais ampla de colocar o Estado como um importante fornecedor de alimentos e de insumos minerais, através de novos e grandes projetos multimodais de transportes. Alinhados nessa direção estão os projetos da hidrovia do São Francisco e a requalificação da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), controlada pela Vale, e que representa a principal conexão ferroviária entre as regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste do país, composta de diversas linhas, que somam cerca de oito mil quilômetros de extensão e conectam o interior do país a portos na Bahia, no Rio de Janeiro e em São Paulo. "O objetivo é construir uma grande rótula de articulação dos fluxos econômicos, a Rótula da Bahia, que possibilitará a circulação mercadorias entre as várias regiões do Brasil", explica Ribeiro.

De acordo com o titular da Seplan, os índices de crescimento econômico e os indicadores sociais já mostram o acerto dessa estratégia. A expectativa do governo estadual é atrair para a Bahia R$ 70 bilhões em investimentos ao longo dos próximos cinco anos, com previsão de gerar 80 mil empregos. Está claro para o governo que boa parte desses recursos ainda pode acabar reforçando áreas de maior concentração da produção atual. As autoridades acreditam, no entanto, ser possível criar inúmeras oportunidades para atrair investimentos destinados, principalmente, à região do semiárido baiano, onde vivem 61% da população mais pobre do Estado - quase 1,6 milhão de pessoas.

São propósitos delineados na própria programação de investimentos do Plano Plurianual (PPA) para o período de 2012 a 2015. De um total de R$ 55,18 bilhões que serão investidos nos próximos anos, informa Ribeiro, R$ 45,46 bilhões estão destinados ao eixo inclusão social e afirmação de direitos sociais. Outros R$ 12,4 bilhões serão aplicados no programa de fortalecimento da educação básica e mais R$ 11,3 bilhões no programa Pacto pela Vida, que visa implementar uma política de segurança pública e de garantia dos direitos humanos.

A iniciativa privada, sem dúvida, é apontada como um forte aliado para implantação desse novo modelo de desenvolvimento econômico. "Estamos em meio a um processo de incentivo a ações voltadas para o desenvolvimento da economia baiana, que privilegia políticas de interiorização do investimento e do crescimento econômico", destaca José de Freitas Mascarenhas, presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb).

Segundo ele, o oeste do Estado, uma região com grande potencial para atividades ligadas ao agronegócio, baseadas sobretudo na agricultura irrigada, está recebendo investimentos novos e vive um clima de expectativas com vistas à concretização de grandes projetos. "A Bahia ocupa hoje uma posição muito boa em relação aos investimentos que estão sendo feitos nos estados do Nordeste. Dados do Ministério da Indústria e Comércio mostram que a Bahia lidera o ranking de intenção de novos investimentos anunciados em 2011, com um valor de R$ 10,5 bilhões. "São recursos cuja aplicação busca um desenvolvimento mais diversificado, embora o setor mineral ainda tenha grande predominância", analisa Mascarenhas.

As perspectivas, porém, apontam para o desenvolvimento de projetos em novas áreas da economia. É o caso da multinacional alemã Basf que inaugurou, no final de novembro, em Camaçari, distante 40 quilômetros de Salvador, a pedra fundamental do polo acrílico, cujo projeto estabelece investimentos de R$ 1,2 bilhão para produção em escala mundial de ácido acrílico, acrilato de butila e polímeros superabsorventes. A nova planta industrial deverá entrar em operação em 2014 com a perspectiva de gerar 800 empregos.

De maneira geral, de acordo com os últimos levantamentos estatísticos, os indicadores sócio-econômicos do Estado desenham uma curva positiva. Várias áreas apresentam resultados expressivos. O nível de emprego, por exemplo, aumentou: foram criados 59 mil novos postos de trabalho em 2008, 41 mil em 2009, 71 mil em 2010 e 82,8 mil novos postos até novembro de 2011. Os resultados, no entanto, como apontam estudos acadêmicos, não são suficientes para eliminar a distância entre a agricultura comercial de alta tecnologia e agricultura familiar, além da enorme concentração urbana, considerada uma das maiores do país.