13/08/2012 | POLÍTICA
Eleger-se prefeito e garantir oito anos no poder. A fórmula de disputar com
controle da máquina pública tem dado tão certo que, este ano, 233 prefeitos
baianos vão tentar a reeleição, segundo levantamento do Tribunal Regional
Eleitoral (TRE-BA). O número corresponde a mais da metade dos municípios do
estado (55,8%) e a 88% dos gestores aptos à reeleição - 264, de acordo com
levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM).
Tanta
disposição tem um motivo: o resultado nas urnas, que é de encher os olhos dos
gestores. Segundo o estudo da CNM, em 2000, 288 prefeitos baianos tentaram a
reeleição e 166 (57,6%) tiveram sucesso. Em 2004, dos 156 candidatos, 80 (51,3%)
tiveram êxito. Na última eleição, a alta: dos 223 que tentaram, 142 (63,6%)
conseguiram manter-se no poder.
“Em 2008, 85% dos prefeitos do PT que
disputaram novamente conseguiram reeleger-se. E os prefeitos estão de olho nos
resultados. Um gestor anuncia que dará continuidade a projetos que estão em
andamento e os resultados acabam sendo positivos”, relata o presidente estadual
do PT, Jonas Paulo.
Para o presidente estadual do PMDB, o deputado
federal Lúcio Vieira Lima, ter a máquina por trás facilita a vitória. “Esse
prefeito tem orçamento maior e está mais em evidência porque qualquer propaganda
que faça de seu governo serve para a sua imagem”, opina. O parlamentar, no
entanto, não aprova a reeleição. “O político hoje faz um governo populista,
pensando na próxima eleição, e não em reformas profundas. Historicamente, o
segundo mandato é pior que o primeiro, porque, como não podem mais concorrer,
tendem a fazer menos. Por isso, sou a favor de um mandato mais longo”,
pondera.
Já o presidente estadual do PSD, o vice-governador Otto Alencar,
diz que arrecadação alta é o maior ingrediente na disputa: “Municípios como São
Francisco do Conde, que arrecada mais que 192 municípios juntos, só perde
eleição se a burrice for grande”.
Partidos
Na Bahia, partidos
da base do governo encabeçam o ranking de prefeitos que buscam reeleição. O PT
tenta com 53 gestores, seguido de PSD (50), PP (29) e PMDB (25). Há quatro anos,
essas legendas foram campeãs nas urnas. De acordo com a CNM, o PMDB elegeu 533
prefeitos no país – 23,74% do total–, o PSDB, 323 (14,39%); o PP, 216 (9,62%); e
o PT, 208 (9,27%).
Os recursos do governo federal por meio de programas
também são apontados como grandes responsáveis para o fenômeno. “O volume de
recursos federais aumentou para os pequenos municípios. Assim, fica mais fácil
gerir a cidade e criar um ambiente de estabilidade política”, sinaliza Jonas
Paulo.
“É difícil levantar da cadeira. O prefeito só desiste do segundo
mandato se for impedido judicialmente. E com recursos chegando até mesmo em
pequenos municípios, alguns prefeitos conseguem tocar a gestão, mesmo com
arrecadação baixa”, diz o presidente do PP na Bahia, deputado federal Mário
Negromonte.
Outro lado
Então, por que nem todos os que poderiam
tentar reeleição estão disputando o pleito? Eventuais reprovações pelo Tribunal
de Contas dos Municípios (TCM) ou a falta de recursos das cidades menores são
apontados como os principais motivos para que 31 prefeitos que poderiam seguir
para o segundo mandato desistissem.
“Cidades com menos de 10 mil
habitantes não têm recursos. O prefeito não pode contar com a máquina para a
disputa eleitoral e não tem assessoria técnica. Ele acaba esbarrando na Lei de
Responsabilidade Fiscal e deixa de executar projetos”, diz Otto
Alencar.
Entre as dez maiores cidades da Bahia, seis têm prefeitos
concorrendo à reeleição: Feira de Santana, Vitória da Conquista, Itabuna,
Juazeiro, Ilhéus e Alagoinhas. Já Salvador, Camaçari, Lauro de Freitas e Jequié
estão fora porque os gestores concluem o segundo mandato.
Em Feira e
Vitória da Conquista, segundo e terceiro maiores colégios eleitorais da Bahia,
respectivamente, a disputa será acirrada e pode chegar ao segundo turno.
Em Feira, a 108 quilômetros da capital, o prefeito Tarcízio Pimenta
(PDT) quer estender o mandato e disputará o cargo com o ex-padrinho Zé Ronaldo
(DEM), com o deputado estadual Zé Neto (PT), Jhonatas Monteiro (Psol) e Adelmo
Menezes (PPL).
Em Conquista, o prefeito Guilherme Menezes (PT) tenta
reeleger-se e terá que lutar com Abel Rebouças (PDT), Herzem Gusmão (PMDB),
Edigar Mão Branca (PV) e Elquisson Soares (PPS).
Mesmo com tantos
prefeitos querendo manter-se na cadeira, o número de candidatos à reeleição pode
diminuir. Até quarta-feira, a Justiça Eleitoral rejeitou 3.149 candidaturas na
Bahia, 64 delas a prefeito.