A economia brasileira cresceu 0,3 por cento no quarto trimestre de 2011 em
comparação com o terceiro, levando a expansão acumulada no ano a 2,7 por cento.
O desempenho indica que a atividade econômica começou a melhorar no fim do ano
passado, apesar de o setor industrial continuar patinando bastante.
"O que está puxando esse crescimento para baixo é claramente a indústria...
ela simplesmente não consegue se beneficiar do mercado que está crescendo",
afirmou o economista-chefe do J. Safra e ex-secretário do Tesouro Nacional,
Carlos Kawall.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também informou
também nesta terça-feira que o Produto Interno Bruto (PIB) teve expansão de 1,4
por cento no último trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. Em
2010 todo, o crescimento da atividade havia sido de 7,5 por cento.
Pesquisa da Reuters mostrou que a mediana de previsões de 29 analistas
consultados mostrava que o PIB brasileiro cresceria 0,2 por cento no quarto
trimestre de 2011 ante o período anterior. No ano, as contas apontavam expansão
de 2,8 por cento.
"Os números foram positivos, mas o recuo (frente a 2010) é fruto da base de
comparação mais alta e de medidas do governo", declarou à Reuters a gerente da
pesquisa do IBGE, Rebeca Palis, referindo-se às ações que limitaram e
encareceram ao crédito e aos juros mais altos.
No quatro trimestre de 2011, o destaque positivo ficou para o consumo das
famílias, com crescimento de 1,1 por cento sobre o trimestre anterior, enquanto
a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), uma medida de investimentos, cresceu
apenas 0,2 por cento.
Já o setor agropecuário teve expansão de 0,9 por cento, enquanto o setor de
serviços cresceu 0,6 por cento. Na ponta oposta, a indústria teve queda de 0,5
por cento no período, puxada pelo comportamento da indústria.
No ano fechado, a FBCF cresceu 4,7 por cento -muito menos do que os 21,3 por
cento vistos em 2010-, seguido pelo consumo das famílias, com expansão de 4,1
por cento. Foi o oitavo ano seguido de elevação, porém abaixo dos 6,9 por cento
vistos no ano anterior. Ainda segundo o IBGE, em 2011, o consumo do governo se
expandiu em 1,9 por cento.
Nos setores, o pior desempenho ficou com a indústria, que cresceu 1,6 por
cento no ano (frente aos 10,4 por cento de expansão em 2010), enquanto serviços
cresceram 2,7 por cento e a agropecuária, 3,9 por cento.
O resultado ruim da indústria foi puxado pelo segmento da industria de
transformação, com expansão de apenas 0,1 por cento no ano passado ante uma alta
de 10,1 por cento em 2010, com destaque para as atividades que sofrem mais
concorrência de importados, como vestuário, calçados, metalurgia e
automóveis
"Foi um ano (2011) de crise, de mais cautela dos consumidores, de um mercado
de trabalho menos forte, juros em alta e inflação também. Isso tudo influencia o
consumidor. Numa conjuntura econômica melhor, as famílias tendem a consumir
mais", disse o coordenador da pesquisa, Roberto Olinto.
O desempenho de 2011 veio abaixo do esperado pelo governo. O Banco Central
trabalhava com a previsão de que o PIB cresceria 3 por cento no ano passado mas
o seu próprio indicador de atividade, o IBC-Br, que registrou crescimento de
apenas 2,79 por cento no ano, já havia mostrado que o avanço seria menor. O
índice, por outro lado, indicou a recuperação no fim do ano. Só em dezembro, foi
0,57 por cento sobre novembro.
Para 2012, a previsão oficial do governo é de um crescimento de 4,5 por
cento, mas o BC é mais comedido e aponta apenas 3,5 por cento.
Com o resultado, os agentes econômicos continuam esperando mais cortes na
Selic -hoje em 10,50 por cento ao ano- daqui para frente, inclusive na reunião
desta quarta-feira, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne
novamente. A expectativa é de um corte de 0,50 ponto percentual, mas há algumas
apostas em 0,75 ponto.
O mercado futuro de juros trabalhava com queda nesta terça-feira, com o DI
para janeiro de 2014 apontando 9,560por cento, ante 9,590 no último ajuste no
início da tarde.?
QUEDA NO 3o TRI
O IBGE também revisou, e para pior, o desempenho do terceiro trimestre de
2011, com queda de 0,1 por cento sobre o segundo, em relação ao crescimento zero
anunciado anteriormente.
O crescimento do segundo trimestre de 2011 sobre o primeiro também foi
revisado, para uma expansão de 0,5 por cento, ante o 0,7 por cento divulgado
antes. Sobre o desempenho de 2010 todo, o IBGE manteve o crescimento de 7,5 por
cento.
Quando comparado com os países dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul), o PIB brasileiro foi um dos que menos cresceu em 2011. Só a
China teve expansão de 8,9 por cento, segundo o próprio IBGE.
ESFORÇO PARA OTIMISMO
O recuo do crescimento em 2011, quando comparado com o ano anterior, veio
sobretudo da crise internacional, cujo epicentro está na zona do euro, mas
também pelo esforço do governo entre o final de 2010 até meados de 2011 para
esfriar a economia, que estava aquecida e pressionava a inflação.
Em dezembro DE 2010, o governo anunciou medidas macroprudenciais que
desestimularam o consumo e em janeiro do ano passado começou um processo de
elevação da Selic que somou 1,75 ponto percentual e a levou a 12,50 por cento ao
ano em julho.
Com a piora do cenário externo, o governo fez uma volta de 180 graus e passou
a estimular a economia novamente voltando a reduzir o juro básico da economia,
entre outras medidas. Também deve pesar agora o crescimento menor esperado para
a China neste ano.
Apesar do resultado mais fraco do que o governo esperava, ele já tem na ponta
da língua o discurso para impedir que o otimismo diminua: o argumento de que a
economia já apresenta um desempenho ascendente. E promete mais medidas para
estimular a atividade, sobretudo a indústria.