Desde quando se casou com o comerciário Paulo Santana, há 3 anos, a
professora Marta Ribeiro colocou na cabeça que viver de aluguel era só uma
questão de tempo. Mas, para realizar o sonho, o casal teve que fazer muito
equilíbrio para conseguir conquistar a tão sonhada casa própria. “O aluguel você
paga e já está devendo outra vez. Passamos muito sufoco, deixamos de comprar
coisas para dentro de casa para poder fazer o equilíbrio no orçamento e ainda
juntar para comprar o apartamento”, conta Marta, que passará o Natal deste ano
já na casa nova no bairro de Sussuarana.
Esse dilema que o casal Paulo e Marta viveu atinge mais gente do
que se imagina. Essa semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) divulgou pesquisa indicando que um em cada quatro domicílios urbanos
alugados no Brasil é um problema para os inquilinos, que têm de reservar mais
de 30% da renda para pagar pela moradia.
Na Bahia, 23% das famílias reservam mais de um terço da renda para
o aluguel, como explica o coordenador regional de disseminação de informações
do IBGE, Joilson Rodrigues de Souza.
“O indicador foi trazido pela pesquisa justamente para chamar
atenção à seguinte questão: toda vez o investimento de uma família no aluguel
chega a ser superior a 30%, esta acaba exposta a uma situação de
vulnerabilidade, pelo peso que este custo teria no orçamento, comprometendo a
realização de outras atividades”.
O levantamento do Síntese de Indicadores Sociais do IBGE mostra
ainda que a população de baixa renda é a que mais sofre com o peso dos
aluguéis. Entre todos os domicílios alugados, 25,7% se encaixam na categoria
“ônus excessivo”, ou seja, cujo aluguel excede o patamar definido por
organismos nacionais e internacionais, segundo o IBGE.
Na faixa de domicílios onde a renda per capita é de até meio
salário mínimo, essa proporção sobe para 55%. Em números absolutos, são 2,9
milhões de residências alugadas por um valor acima do considerado razoável para
a renda dos inquilinos.
É o caso da aposentada Maria Santana, 69 anos. “Eu ganho R$ 1,5 mil
para sustentar minha família e tenho que pagar R$ 600 de aluguel. Dá um baque
grande no final do mês porque depois do aluguel ainda tem luz, água, telefone e
muitas outras contas”, diz.
nova vida O presidente do Conselho Regional de Corretores de
Imóveis 9ª Região, na Bahia, Samuel Prado, explica que quem tem moradia fixa em
uma determinada cidade deve pensar em ter uma casa própria. “A moradia fixa tem
que ser planejada. Hoje, a compra do imóvel está mais fácil do que nunca. Há
muitas vantagens de brindes, descontos e também de oferta do crédito”,
argumenta.
Prado alerta, porém, que a pessoa tem que adequar a sua renda para
fazer a compra do imóvel. “As taxas de condomínio estão ficando cada vez mais
altas. As pessoas precisam pensar direito onde vão morar para equilibrar o
imóvel de seu gosto com o orçamento para não evitar o comprometimento da
renda”, diz.
Quem vive de aluguel, lembra Prado, a depender do contrato, fica
responsável também por pagamentos de impostos do imóvel - como o IPTU - além do
valor do aluguel propriamente dito.